Enquanto mísseis cruzam os céus do Oriente Médio e cresce o temor de um novo conflito mundial, uma resposta curiosa toma conta da internet: memes.
A Geração Z — jovens nascidos entre meados dos anos 1990 e 2010 — está respondendo ao caos geopolítico com doses generosas de sarcasmo, criatividade digital e humor nervoso. A internet está cheia de vídeos, montagens e comentários que misturam medo e deboche diante da possibilidade da chamada “WW3” (sigla em inglês para Terceira Guerra Mundial).
🔥 Mísseis no céu, memes no feed
Desde os intensos confrontos entre Israel e Irã que se agravaram em junho, redes sociais como TikTok, X (antigo Twitter), Reddit e Instagram foram tomadas por uma enxurrada de conteúdos relacionados ao conflito. Mas, ao contrário do que se esperaria em tempos de pânico, a reação predominante entre jovens foi transformá-lo em conteúdo viral.
Frases como “isso vai atrasar meu pedido da SHEIN?”, “que roupa usar na WW3?” e vídeos simulando soldados dançando ao som de músicas de trend estão entre os destaques. Outros fazem montagens com legendas do tipo: “Acordando com as notificações de que começou a WW3”.
📈 O medo é real, mas a reação é digital
Embora tudo pareça uma grande piada, as estatísticas contam outra história: o Google Trends registrou aumentos massivos nas buscas por termos como “World War 3”, “draft USA”, e “nuclear war shelter” (abrigo para guerra nuclear). O comportamento revela um padrão recorrente: o humor funciona como válvula de escape diante da incerteza.
“O riso é uma forma de defesa. É como os jovens hoje lidam com ansiedade em massa”, aponta a psicóloga comportamental Fernanda Ávila. “Eles foram criados em um mundo cheio de crises: pandemia, mudanças climáticas, instabilidade econômica — e agora, a ameaça de uma guerra global. Rir é uma forma de dizer ‘ainda estamos aqui’”.
💣 Fake news alimentam o caos
Em meio aos memes, o caos informacional também se intensifica. Perfis falsos — inclusive um que se passou por uma agência oficial iraniana — publicaram mensagens alarmantes como “todo mundo vai sentir isso”, provocando desinformação em massa e aumentando a tensão virtual.
Plataformas como Reddit também abrigam discussões mais sérias, com tópicos do tipo:
- “Estamos mesmo caminhando para uma guerra mundial?”
- “Tenho 19 anos e estou com medo do alistamento.”
Esses fóruns revelam que, por trás da ironia, há um clima de incerteza palpável.
⏮️ Um déjà-vu de 2020
Não é a primeira vez que a WW3 entra nos trending topics. Em janeiro de 2020, após os EUA eliminarem o general iraniano Qasem Soleimani, houve um pico similar de memes apocalípticos. Naquela época, assim como agora, o humor ajudou a internet a assimilar uma realidade incômoda.
🧠 Memes como resistência emocional
Especialistas destacam que esse comportamento da Geração Z não deve ser interpretado como insensibilidade. Pelo contrário: trata-se de uma linguagem própria, em que o humor funciona como código de sobrevivência emocional e crítica social.
“Quando um jovem posta ‘guia de looks para WW3’ acompanhado de uma montagem com roupas militares, ele está ironizando o consumismo, a guerra e a banalização da violência ao mesmo tempo”, explica o pesquisador em comunicação digital Marcelo Vilela.
🌐 Cultura global da crise
A velocidade com que memes se espalham é prova de como a Geração Z vive numa cultura globalizada e hiperinformada — e ao mesmo tempo saturada de crises. Muitos cresceram ouvindo que o mundo estava acabando e se tornaram mestres em transformar tragédia em conteúdo viral.
Conclusão: entre o riso e o medo, uma geração que não foge do colapso — apenas transforma ele em trend
Enquanto os mais velhos encaram as tensões com preocupação e os governos discutem estratégias diplomáticas, a Geração Z segue postando, reagindo e rindo — talvez para não chorar. Em tempos de guerra (ou à beira dela), memes podem ser mais do que entretenimento: podem ser escudos emocionais e até formas de resistência cultural.